Teerã mantém postura cautelosa sobre negociações nucleares com os EUA, afirma aiatolá Khamenei
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, reiterou nesta semana sua posição de cautela em relação às negociações nucleares com os Estados Unidos, destacando que o país não deve confiar plenamente nas intenções de Washington. A declaração foi feita durante um discurso transmitido pela televisão estatal iraniana, em meio a esforços diplomáticos renovados para retomar o acordo nuclear de 2015, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês).
Segundo Khamenei, embora o Irã não se oponha à diplomacia, as experiências passadas demonstram que os EUA não são parceiros confiáveis. Não somos contra negociações, mas devemos aprender com o passado. Os americanos violaram seus compromissos anteriormente, e não há garantia de que não o farão novamente, afirmou o líder religioso e político, que detém a palavra final sobre as principais decisões de Estado no Irã.
As conversas indiretas entre Teerã e Washington, mediadas por potências europeias, vêm ocorrendo de forma intermitente desde o início de 2024, com o objetivo de restaurar os termos do acordo abandonado pelos EUA em 2018, durante o governo do então presidente Donald Trump. Desde então, o Irã tem ampliado seu programa nuclear, enriquecendo urânio em níveis próximos aos necessários para armamento, o que tem gerado preocupações na comunidade internacional.
O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tem sinalizado interesse em retornar ao acordo, desde que o Irã também volte a cumprir integralmente suas obrigações. No entanto, as negociações têm enfrentado obstáculos, como a exigência iraniana de garantias de que os EUA não abandonarão novamente o pacto, além da retirada de sanções econômicas impostas nos últimos anos.
Analistas políticos e econômicos avaliam que a postura de Khamenei reflete a desconfiança institucional do regime iraniano em relação ao Ocidente, especialmente diante das sanções que impactaram severamente a economia do país. O rial iraniano continua desvalorizado frente ao dólar, e a inflação permanece elevada, pressionando o custo de vida da população.
Enquanto isso, o mercado internacional acompanha com atenção os desdobramentos das negociações, uma vez que um eventual acordo pode influenciar diretamente os preços do petróleo e os investimentos na região do Oriente Médio. O Irã, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, enfrenta restrições severas à exportação de sua commodity devido às sanções, o que limita sua capacidade de gerar receitas em moeda estrangeira.
Com a continuidade das tratativas e a retórica cautelosa de Teerã, o cenário permanece incerto. Observadores internacionais esperam que os próximos meses tragam avanços concretos, mas reconhecem que a confiança mútua entre as partes ainda está longe de ser restabelecida.