O que torna uma moeda uma reserva global?
Em meio às transformações geopolíticas e econômicas que marcam o cenário global em 2025, o debate sobre o papel das moedas de reserva ganha novo fôlego. A hegemonia do dólar americano, consolidada desde o fim da Segunda Guerra Mundial, continua sendo desafiada por movimentos estratégicos de países como China e Rússia, que buscam reduzir sua dependência da moeda norte-americana. Mas afinal, o que define uma moeda de reserva?
Uma moeda de reserva é aquela mantida em grandes quantidades por bancos centrais e instituições financeiras internacionais, utilizada para transações comerciais, investimentos e como referência cambial. Atualmente, o dólar dos Estados Unidos representa cerca de 58% das reservas cambiais globais, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) atualizados até o final de 2024. Apesar de ainda dominante, essa participação vem caindo gradualmente há duas décadas, o dólar respondia por mais de 70% das reservas mundiais.
Entre os fatores que tornam uma moeda apta a ser reserva global estão a estabilidade econômica e política do país emissor, a profundidade e liquidez de seus mercados financeiros, a confiança internacional na política monetária local e a liberdade de movimentação de capitais. O euro, por exemplo, representa cerca de 20% das reservas globais, seguido pelo iene japonês e pelo yuan chinês, que ainda enfrenta limitações devido ao controle de capitais imposto por Pequim.
Nos últimos anos, especialmente após as sanções econômicas impostas à Rússia em 2022, diversos países intensificaram esforços para diversificar suas reservas. A China, por exemplo, tem promovido o uso do yuan em acordos bilaterais com países da Ásia, África e América Latina. O lançamento do sistema de pagamentos CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), uma alternativa ao SWIFT, também tem sido uma peça-chave na estratégia chinesa de internacionalização de sua moeda.
Apesar dessas iniciativas, especialistas apontam que a substituição do dólar como principal moeda de reserva não ocorrerá de forma abrupta. A confiança construída ao longo de décadas, aliada à profundidade dos mercados financeiros dos EUA e à aceitação global do dólar, ainda garantem sua posição privilegiada. No entanto, o movimento de desdolarização, embora lento, é consistente e pode redesenhar o mapa financeiro internacional nas próximas décadas.
Para o Brasil, que mantém cerca de 80% de suas reservas internacionais em dólar, a diversificação cambial também se tornou pauta estratégica. O Banco Central tem avaliado alternativas para reduzir riscos associados à concentração em uma única moeda, especialmente diante das incertezas geopolíticas e das mudanças estruturais no comércio global.
Com um cenário em constante evolução, a discussão sobre moedas de reserva permanece central para entender os rumos da economia mundial e os desafios que países emergentes enfrentam para garantir estabilidade e autonomia financeira.